Mc 1, 14-20 “Sigam -me e eu farei vocês se tornarem pescadores de homens”
 Este texto trata da vocação dos primeiros discípulos conforme a tradição sinótica, em contraste com o do último Domingo, que nos trouxe a tradição da comunidade do Discípulo Amado. Marcos logo destaca e situa concretamente o momento de Jesus lançar-se na sua vida pública - “depois que João Batista foi preso”.Não é uma indicação meramente cronológica, mas causativa, no sentido que Jesus começou a pregar porque João foi preso. Assim, Ele se coloca na tradição profética de João Batista, uma vocação que levaria Jesus, como levou João, ao martírio. O texto encapsula em versículo 15 todo o conteúdo do Evangelho na frase lapidar “o tempo já se cumpriu, e o Reino de Deus está próximo. Convertam-se e acreditem na Boa-Notícia”.

O Reino de Deus irrompeu no meio da humanidade de uma maneira definitiva, através da pessoa e ação de Jesus de Nazaré. Esse Reino exige resposta da parte das pessoas - a conversão que nasce da fé na Boa-Notícia da salvação, da justiça e da paz que Jesus trouxe.
 Mas Deus quis precisar das pessoas para concretizar o seu plano; por isso o primeiro passo de Jesus foi formar uma comunidade de discípulos. É importante notar a atividade dos primeiros chamados - dois estavam “lançando a rede ao mar” e dois estavam “consertando as redes”. Significa os dois aspectos da vida cristã - a missão (lançar as redes) e a comunhão (consertar as redes). Como as redes se rasgam de tanto serem lançadas, assim acontece com a nossa vida, com as nossas comunidades - por sermos frágeis, facilmente se rompem a nossa comunhão e unidade. Por isso, temos também de dar tempo para “consertar” - fortalecer a nossa união, a nossa vida interior, a nossa vivência comunitária. Rede rompida pega nada - e rede consertada, por tão bonita que possa ser, se não for lançada também pega nada. É assim com a vida cristã - se rompermos a nossa unidade e comunhão, não traremos pessoas para o Reino. Mas, se cairmos em uma religião intimista e individualista, não nos lançando na missão, tampouco seremos “pescadores de homens”. O unilateralismo deve ser evitado.
 Também é de notar que tanto os dois que estavam lançando as redes como os que estavam consertando-as tiveram que deixar algo para seguir Jesus - ou as redes, (símbolo da segurança profissional) ou o pai e os empregados (símbolo da segurança afetiva). Não é possível seguir Jesus sem deixar algo. Uma religião de seguranças humanas, que não exige compromissos concretos e opções às vezes difíceis, não é a religião de Jesus. O Evangelho é como “espada de dois gumes” (Hb 4, 12), incomoda e desinstala-nos hoje, da mesma maneira do que os primeiros discípulos. Perguntemo-nos: “o que é que o seguimento de Jesus exige que eu deixe, neste momento concreto da minha caminhada de discípulo ou discípula-missionário de Jesus e do Reino?
Pe.Tomaz Hughes, SVD