2º Domingo do Tempo Comum B (14/01/2018)
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Jo 1, 35-42 “O que é que vocês estão procurando?”
O autor do Quarto Evangelho organizou o material dos versículos de 1, 19 - 2, 12 em um esquema de sete dias, culminando com o primeiro sinal de Jesus - as bodas de Caná - que teve como consequência que “os seus discípulos creram n’Ele” (2, 11). Assim fez lembrar os sete dias da criação, pois com e em Jesus acontece a nova criação. Mas Jesus não quis agir sozinho - e desde o início chamou para si um grupo de seguidores. Embora seja mais conhecido o relato dos Sinóticos, que descreve o chamado dos primeiros discípulos à beira do mar de Galiléia (Mc 1, 16-20), talvez o relato do 4º Evangelho guarde uma tradição mais histórica - que os primeiros discípulos de Jesus eram seguidores de João, o Batista. O texto de hoje relata a vocação dos primeiros três discípulos
- André, um discípulo anônimo (o Discípulo Amado?) e Simão Pedro. O chamado dos primeiros discípulos nos apresenta um retrato de vocação, válido para todos os tempos e todas as pessoas. A primeira pergunta que Jesus fez é fundamental - “o que é que vocês procuram?” São as primeiras palavras de Jesus no Evangelho de João. Uma pergunta muito importante para todos nós hoje - o que é que nós procuramos na vida? O que é o mais importante para nós? Onde procuramos a nossa felicidade e realização? Não é uma pergunta meramente teórica - é a base da nossa vivência. Essa pergunta nos interroga, como interrogou os primeiros discípulos, sobre a busca que dá sentido à nossa vida.
A resposta dos dois: “Mestre, onde moras?”, mostra que eles queriam criar comunhão com Jesus, pois a frase não significa descobrir o seu endereço, mas a sua proposta de vivência - e Ele lhes lança um desafio com o convite - “Venham e vejam”! Em João, “ver” tem o sentido de “crer” (Jo 6, 40). Não se trata simplesmente de conhecer a moradia d’Ele, mas algo muito mais profundo - descobrir quem é Jesus, descobrir que Ele veio do Pai e volta para o Pai. Ambos escolhem unir as suas vidas e os seus destinos a Jesus, pois “ficaram com Ele”. Não é possível ser discípulo de Jesus sem que demos tempo para ficarmos com Ele - na oração, na reflexão, na leitura da sua palavra.
Mas para que sejamos discípulos/as não basta conhecer Jesus de uma maneira intimista e individualista. Logo André procura partilhar a sua descoberta, fazendo com que o seu próprio irmão chegue a conhecer Jesus. Hoje também é fundamental que os cristãos testemunhem Jesus, para que outros possam crer n’Ele - e esse testemunho é dado muito mais pela nossa maneira de viver e agir do que com as nossas palavras.
O terceiro discípulo do texto é Simão, que ganha o novo nome de “Pedro” - mudar o nome de uma pessoa na Bíblia muitas vezes significa uma nova identidade, uma nova vocação (Abrão, Jacó, Sarai etc). Pedro vai dar muitas cabeçadas antes de descobrir a sua verdadeira identidade. Aliás, só a encontra no fim do Evangelho em Capítulo 21 quando confessa o seu amor incondicional para Jesus e pela comunidade, e ouve o convite definitivo do Mestre “Siga-me”. Pedro simboliza a experiência de todo discípulo - o seguimento de Jesus é uma caminhada de uma vida toda, com muitos erros e desvios. Mas, o amor incondicional de Deus é capaz de vencer todas as fraquezas e pecados.
Ser discípulo é um aprendizado permanente - e para que façamos essa caminhada, é necessário que sigamos os passos dos primeiros discípulos - que saibamos com clareza o que procuramos na vida, que busquemos criar comunhão com Jesus e com a sua comunidade, e que gastemos tempo com Ele. Assim teremos a alegria imensa de fazer a grande descoberta da vida, e, como os discípulos, chegarmos a realmente “crer n’Ele” - não de uma maneira teórica e difusa, mas através de uma experiência real do Deus da vida, encarnado em Jesus de Nazaré.
Pe. Tomaz Hughes SVD