Com a ressurreição do Senhor, torna-se obrigatório levantar-se! Todos os que acreditam em Jesus de Nazaré, esfroçam-se a dar um passo adiante, nas múltiplas situações que enfrentam na vida.
No final da caminhada da quaresma, as pessoas acompanham os últimos dias da vida do Nazareno com grande atenção, intensa devoção, e muita emoção. A comunidade vive os últimos dias da vida de Jesus, ou seja, a última semana da vida de Jesus com emoções intensas. Os fatos marcantes como: a sua entrada solene na cidade de Jerusalém (Lc 19,38), a limpeza do templo (Mc 11,15),

momentos na casa dos seus amigos em Betânia (Mc 14,3), a ceia no cenáculo, a reza no horto das oliveiras (Mt 26,36), uma entrega traiçoeira pelo seu discípulo às autoridades religiosas e políticas (Mt 2649), a sua condenação, paixão e morte (Mc 15). Tudo bem direcionado à sua ressurreição como se fosse um filme. Para maioria dos fiéis o sofrimento da cruz e a da paixão que atraem mais as atenções, porque, nas consternações do Nazareno, veem os seus próprios sofrimentos. Portanto, lotam as igrejas na Sexta - Feira Santa com um olhar compadecido.
Para outros, o grande mistério é a da ressurreição, a base da toda sua fé! Portanto, esperam para a vigília pascal. O levantar de Jesus das garras da morte, torna-se o grande acontecimento da humanidade. Ela alcança uma liberdade jamais vista, porque, foi libertada das garras do pecado. A vida eterna torna-se uma certeza, e a presença de Deus, mais próximo que nunca.
A surpresa
O túmulo, onde sepultaram Jesus foi encontrado vazio de manhã cedo pelas mulheres e depois pelos discípulos (Jn 20,7). A ressurreição foi anunciada, primeiro por um jovem (Mc 16,5) e depois por mulheres. São elas as primeira a quem Jesus ressuscitado se revela e logo se tornam anunciadoras da maior boa nova da nossa fé aos discípulos. Mais tarde, Jesus aparece às outras pessoas (1Cor 15,1-11). Os discípulos que fugiram com medo, vergonha e desespero, na certa altura reúnem em Jerusalém com uma coragem extraordinária. Declaram abertamente que aquele que foi crucificado pelas autoridades político-religiosas está vivo. Abertamente dão continuidade ao movimento de Jesus e desafiam as autoridades! Aconteceu algo sobrenatural!
Ressurreição no Antigo Testamento
Encontramos muitas vezes o uso da palavra qûm no AT, que significa levantar, ou levantar-se, embora não fale da ressurreição. Quando Moisés ia para a tenda, todo o povo se levantava e ficava de pé fora da tenda (Ex 33,8). O gesto de levantar-se aponta para um fato e um rito importante na história do povo de Deus. Uma reverencia ao Deus librertador, aquele que os tirou da servidão do Egito. Usa-se este verbo quando Deus levanta as suas lideranças para conduzir o seu povo (os juízes e os profetas), e mais ainda quando ele próprio se coloca de pé como se fosse um guerreiro disposto a atacar os inimigos (Am 7,9).
Os profetas, embora não falem explicitamente de ressurreição, dizem algo no sentido de prolongar a vida, de levantar-se do pó, de voltar para Deus (Is 26,19; 53,10-12; Ez 37,1-14; Os 6,1-2). O salmista reza a Deus interruptamente que não o abandone na morte, mas o guarde, ou seja, pede pela salvação, e preserve-o do domínio da morte (30,2-3; 49,15; 73,24; 88,5; 116,8). Uma das passagens que fala claramente sobre a ressurreição dos mortos encontra-se no livro de Daniel (Dn 12,2). No tempo de Jesus, os Saduceus não acreditavam na ressurreição quando os fariseus diziam acreditar. Ou seja, a ressurreição dos mortos era um dos motivos de atrito entre os dois grupos.
Jesus na sua vida:
Durante a sua vida pública, Jesus restitui a vida a filha de Jairo. Entra no quarto dela, segura a sua mão, e a menina levantou-se (Mt 9,18-26). Podemos lembrar também o filho da viúva de Naim (Lc 7,11-17), e Lázaro o seu amigo (Jo 11,1-14). Nas suas discussões apóia os fariseus sobre tal realidade (Mc 12,18s). Profetizava que levantaria no terceiro dia após a sua morte (Mc 8,3; Lc 9,22). Mais ainda, numa ocasião disse, eu sou a ressurreição e a vida (Jo 11,25). Claro, lemos tais relatos na luz da sua ressurreição e a vivencia da comunidade banhada no tal fato consumido.
O Ressuscitado:
A ressurreição de Jesus não era um retorno a sua vida anterior, os discípulos não o reconhecem, sua aparência parece diferente. Ele tem a necessidade de dizer-lhes quem ele é. Ele não foi visto por ninguém na hora da sua ressurreição, nem eles esperam tal acontecimento. Muitos deles fugiram, ou voltaram para sua casa (Lc 24,16). A ressurreição não é uma prova para a fé, mas aquilo que a fé apreende em primeiro lugar. Jesus elogia a fé dos discípulos na ressurreição e não a observação do fato (no caso de Tomé).
A Comunidade:
A primeira comunidade cristã testemunha tais acontecimentos nos seus escritos mais remotos (1 Cor 16,3-8; 12,3; Rm 10,9; Ef 5,14). Não faltam os relatos nos evangelhos (Mc 16,6; Mt 28,6; Lc 24,5; Jo 20,16). Embora estas passagens façam alusão, ora a fé da comunidade primitiva, ora a catequese inicial, sem duvida foi a partir daí que se formulou ocredo, inicialmente na forma de hinos e orações. Paulo torna-se o primeiro teologicamente explorar tal realidade (ICor 15,1-11), dizendo que a ressurreição de Jesus tem um significado universal. Serve-se da comparação entre Adão e Jesus, para explicar o pecado cometido por Adão e a libertação do pecado trazido pelo segundo. Ele aponta a uma transformação completa do corpo que acontece na ressurreição quando diz que o corpo é semeado corruptível, mas ressuscita incorruptível; é semeado desprezível, mas ressuscita glorioso, é semeado na fraqueza, mas ressuscita cheio de força.
Consequências:
A ressurreição tem a ver com a vida cotidiana das pessoas. É necessário levantar-se! Todos os que acreditam em Jesus de Nazaré, obrigam-se a dar um passo adiante, nas várias situações que enfrentam frente à vida. Estender uma mão aos que estão caídos nas margens da vida, torna-se mais que uma solidariedade, um traço dos seguidores do ressuscitado. Defender a vida, a saúde, a cultura da paz, a esperança torna-se parte do perfil dos filhos e filhas da ressurreição. Qualquer um que planta uma flor, embelezando a vida; outro que abre uma escola, erradicando a ignorância, são os sinais da ressurreição, ou seja, os pequenos gestos, apontam em direção daquele que levantou do tumulo.
A ressurreição abre um campo enorme de missão. Para quem acredita neste mistério, há muita coisa a fazer. A evangelização inicia-se como fruto da ressurreição! Vale a pena rever o início da missão de Jesus na luz da ressurreição, que falava de levar a boa nova aos pobres, presos, cegos e oprimidos (Lc 4,18). Jesus já avisava antes, eu vim para que vocês tenham a vida, e a tenham em abundancia (Jo 10,10). O ano da fé e a nova evangelização com certeza terão um significado novo, como afirmava o papa Paulo VI – o espaço evangelizador é o mundo vasto e complexo da política, da realidade social e da economia, como também da cultura (...), o amor, a família, a educação das crianças e adolescentes, o trabalho profissional e o sofrimento (EN 70).
Pe. Ronaldo Lobo svd