Ez 2,2-5 – Salmo 122 – 2.ª Coríntios 12,7-10 – Marcos 6,1-6 

O tema das leituras de hoje é a recepção que se dá ao profeta, isto é, àquele pelo qual é Deus mesmo que fala. O profeta não é necessariamente alguém que prediz o futuro, como muita gente pensa, mas aquele que traz a Palavra do próprio Deus. Muitas vezes o profeta é rejeitado, porque a Palavra de Deus vai contra os planos humanos e aquele que traz essa Palavra tão incômoda carrega sobre si a rejeição que as pessoas devotam à própria Palavra de Deus.Na Leitura da Profecia de Ezequiel repete-se por três vezes se chama ao povo de Israel de bando de rebeldes. É Deus que denuncia que o povo rejeita a sua Palavra. A rebeldia leva as pessoas ao pecado, a se afastarem de Deus. A atitude contrária é a ação de graças diante da Palavra criadora de Deus, que tudo criou e é verdadeira e nos conduz para o bem. Em toda celebração eucarística é lembrada a ação de graças como atitude de salvação. O sacerdote diz: “Na verdade, é justo e necessário, é nosso dever e salvação dar-vos graças sempre e em todo lugar, Senhor Pai santo, Deus eterno e todo poderoso”. Os pensamentos das pessoas distam dos pensamentos de Deus como o Céu dista da terra (Is 55,9). Mas o profeta deve falar independentemente de ser escutado ou não, pois a Palavra de Deus deve sempre advertir as pessoas sobre o caminho da verdade. Por isso se diz: “Quer te escutem, quer não – pois são um bando de rebeldes – ficarão sabendo que houve entre eles um profeta” (Ez 2,5). Muitos profetas foram perseguidos a princípio e só depois respeitados e ouvidos, confirmando essa palavra “ficarão sabendo que houve entre eles um profeta”. É o caso de Jeremias, por exemplo. No Evangelho, Jesus, fiel à tradição profética de Israel, é rejeitado pelos de sua terra, de Nazaré, que se recusavam a ver n’Ele alguém diverso do carpinteiro que tinham conhecido durante a vida oculta de Jesus. Identificam Jesus como o filho de Maria e irmão de Tiago, de José, de Judas e de Simão. Segundo Mt 27,56, Mc 15,40 e Lc 24,10, Tiago e José eram filhos de outra Maria, que não é Maria Santíssima. Segundo At 1,13, Judas era irmão de Tiago, ou seja, filho da mesma Maria. De modo que esses “irmãos de Jesus” não eram filhos de Maria Santíssima, a mãe de Jesus, mas parentes próximos. Maria é sempre Virgem, antes durante e depois de ter Jesus Cristo, a esposa de Deus, figura da Igreja.Na Leitura da Segunda Carta de São Paulo aos Coríntios revela-se que Deus se serve de homens fracos para seus profetas. Não é do feitio de Deus o triunfalismo ou servir-se de pessoas admiradas pela sociedade, pelos seus dotes, riqueza, inteligência ou força física. Isto para que se revele uma força não humana no seu profeta, uma força que vem de Deus. Assim o profeta conclui: “pois quando eu me sinto fraco, é então que sou forte” (2Cor 12,10). O profeta é forte de uma força que lhe é dada do Alto, sobre a qual ele não tem poder. É Deus que o sustenta. É Deus que fala por meio dele e o profeta é um instrumento de Deus, chamado por Ele para as obras da misericórdia que Deus quer ter em relação ao seu povo.Todo aquele que ensina ao povo a Palavra de Deus pode ser comparado aos profetas. Deus não escolhe os fortes, mas os simples, que são capazes de obedecer-Lhe e ser instrumentos dóceis em suas mãos. Os que se apóiam em recursos humanos tendem ao orgulho e auto-suficiência e não são dóceis ao Senhor. Os humildes é que servem melhor aos planos de Deus, como Maria Santíssima, da qual o Senhor viu a humildade (f. Lc 1,48). Por isso os que servem ao Senhor no ministério da Palavra como os catequistas e outros podem ter fraquezas como São Paulo, mas não devem ter timidez e devem falar a Palavra do Senhor sem respeito humano, pois sua força é Deus mesmo que fala pela sua boca. “Se alguém se envergonhar de mim e das minhas palavras, também o Filho do Homem se envergonhará dele, quando vier na sua glória, na glória de seu Pai e dos santos anjos” (Lc 9,26)