Primeiro Domingo da Quaresma – B.

“Quando meu servo chamar, hei de atende-lo, estarei com ele na tribulação. Hei de livra-lo e glorifica-lo e lhe darei longos dias”(Cf. Sl 90,15s).Estamos vivendo o primeiro domingo da quaresma. Santa Quaresma: tempo de perdoar e de amar. Amar como Jesus nos amou, subindo ao Lenho da Cruz para a salvação da humanidade.Vamos hoje refletir sobre a conversão, a linha mestra deste tempo admirável que é a Santa Quaresma. A Restauração da Humanidade é feita em Cristo pelo Batismo. Por isso o mal tem muitas faces, mas uma coerência inferior que faz pensar nem ser pessoal, embora não identificável no mundo material. Chama-se Satanás, ou seja, adversário, ou ainda diabo, o destruidor. O diabo está presente desde o início da humanidade. Parece, às vezes, que Deus “solta as forças do mal”, por exemplo, quando ele permitiu que Satanás provasse o justo Jô. As águas do dilúvio representavam, para os nossos antepassados, um desencadeamento das forças do mal sobre a criação, o mundo dos homens. Deus soltou Leviatã, o demônio das águas. Mas quem tem a última palavra, a palavra final, na criação é o amor misericordioso de Nosso Senhor Jesus Cristo. Não quer destruir o homem. Deus imporá limites a Leviatã. Não mais voltará a destruir a terra, conforme nos ensina a primeira Leitura. No fim do dilúvio Deus repete o dia da criação, em que Ele venceu o caos original, separou as águas de cima e as águas de baixo e deu um lugar especial para o homem habitar. É uma nova criação que é feita a partir do dilúvio, que vai acompanhada por um pacto de proteção.O belo arco-íris, que alegra generosamente todos os viventes, especialmente os homens, no fim do temporal, é o sinal natural da aliança entre Deus e os homens. Oito pessoas foram preservadas, na arca de Noé. Elas serão, graças à aliança entre Deus e os homens, o início de uma nova humanidade.Irmãos e Irmãs,O primeiro domingo da Santa Quaresma tem um Evangelho muito especial: aquela passagem que relata o episódio das tentações de Jesus, antes de começar a sua vida pública, para pregar o Evangelho. Será contradição para os olhos humanos pensar que o Filho de Deus passe por tentações. Essas tentações se passam no deserto. Tentação é sempre ligada a pecado, e como Jesus era sem pecado, achamos impossíveis ele ser tentado. Entretanto, até para os santos a tentação é colocada para que seja aprimorado o nosso Seguimento de Jesus Cristo.O centro do Evangelho de hoje são os homens e as mulheres que são redimidos por Jesus que restaura a humanidade pela sua morte e ressurreição. Todos os homens permanecem em constante tentação: esta é o retrato dos humanos. No deserto há o símbolo da natureza violentada, calcinada, amaldiçoada. Até a natureza deve receber o Messias que vem reconduzir as criaturas ao sentido que tinham na criação: obras boas saídas das mãos poderosas de Deus. Para elas Jesus traz a boa nova. O extremo mais longe é o diabo. O mais perto são os anjos, querubins e serafins. Entre os dois acontece a nossa vida. Entre os dois se põe Nosso Senhor Jesus Cristo, participando da sorte humana, dos animais e das plantas. O mais beneficiado é o homem e a mulher.Meus irmãos,Jesus exclama que: “O tempo já se cumpriu”. Isso significa não o fim do mundo, mas a inauguração de um novo tempo de graça e de paz: o TEMPO DA SALVAÇÃO, o momento da graça redentora. Terminamos o momento de espera. Começa o tempo de certeza, que não dispensa o esforço, a conversão, a emenda de vida. Esse “hoje da salvação” não é o tempo histórico de Jesus, mas sim o dia de hoje, o tempo de cada um de nós, o hoje de cada um dos viventes.Mas é necesssário refletir ainda sobre o DESERTO. Todos os profetas se preparavam no deserto. O deserto passou a ser o lugar onde se pode encontrar Deus e tomar grandes decisões. E em Marcos, especialmente, é o lugar onde a gente se encontra com Deus. Compreende-se, então, que Marcos faça Jesus – mais santo que o profeta Elias, legislador maior do que Moisés, o Messias esperado – como que nascer do deserto e vir do deserto para começar a pregação do Evangelho.O DESERTO, entretanto, é um lugar inóspito, símbolo de maldição, lugar de feras e demônios. E o demônio vem tentar Jesus no deserto. Nós, homens e mulheres, como imagens e semelhanças de Deus estamos sempre ameaçados pelo demônio que quer que nós vivamos o mundo do pecado e da maldição. Por isso a grande mensagem de hoje é à volta do cristão para Deus, à volta do vivente – homem e mulher – para Deus e isso só acontecerá com a nossa conversão e mudança de vida.  Por isso a Santa Igreja nos apresenta a Quaresma santa, tempo de conversão, de mudança de vida e de amor em abundância. Santa Quaresma é retorno para Deus, equilíbrio interior, vitória sobre as nossas tentações. A Sagrada Liturgia entoa o cântico que dá o colorido deste tempo: “Este é o tempo propício”(Cf. 2Cor 6,2). Jesus veio da terra dos Pagãos. Israel esperava um messias triunfalista, chefe militar, e veio um filho de carpinteiro, nascido na mais pérfida cidade de seu tempo. Não importa qual a nossa origem ou a nossa condição social ou econômica. O importante é o nosso batismo. Pelo batismo nos tornamos cristãos e aí não tem diferença todos somos cidadãos do céu.  Neste sentido anima a liturgia de hoje o espírito de confiança acreditando que poderemos vencer o pecado e a tentação pela graça de Deus: “Ele guia ao bom caminho os pecadores , aos humildes conduz até o fim em seu amor”. Por esta razão, todos os batizados devem renovar, na celebração da Páscoa, o compromisso de seu batismo: um compromisso de coerência de vida, de anúncio do Evangelho e de engajamento na nova Evangelização, superando todas as exclusões, como dos idosos, lutando ainda para que todos tenham “o pão de trigo e o pão da palavra”, palavra que liberta e salva! Conversão e Batismo constituem as duas linhas mestras da Quaresma. Pelo Batismo o ser humano mergulha, por sua vez, na morte e ressurreição do Senhor Jesus. Este mergulho nas águas da vida do Batismo em Cristo exige, por sua vez, a conversão, o compromisso solene de uma boa consciência para com Deus.  Conversão, fé na boa-nova do Cristo e compromisso de vida nova constituem as linhas-força desta Quaresma que se inicia. Que todos nós possamos viver intensamente este tempo de penitência, de jejum, de conversão e de oração e que a palavra divina seja sempre a santa referência fundante a orientar a vida crista nas horas de provações e de dúvidas. Amém!