III Domingo Comum B 2009 1. No caminho de Damasco, Paulo é completamente “passado” e ultrapassado por Jesus, que correu ao seu encontro e o agarrou com a força de um vencedor! Naquela hora do meio-dia, do sol a pique, de Deus na via, relampeja, à sua volta, uma intensa luz, que o cega e deita por terra! É uma luz nova, que vem de fora, vem do céu, vem de Deus, e arrasta consigo, uma nova criatura, um novo nascimento, como no primeiro dia da criação, em que «Deus viu que a luz era boa»! De conhecedor a conhecido por Deus, de perseguidor a perseguido de Cristo, de conquistador a conquistado por Cristo, Paulo tudo recebe de Deus, tudo aprende de Deus, para dEle se tornar um mimo aos outros! Doravante, Paulo prosseguirá por uma outra via e perseguirá uma meta nova, ainda e sempre por alcançar: a perfeição e a ressurreição de Cristo! 2. Mais do que uma «conversão», mais do que uma mudança esforçada, há aqui um encontro inesperado, uma revelação plena, uma luz intensa, uma graça divina. Aliás, quer no livro dos Atos quer nas Cartas, do seu próprio punho, Paulo nunca se refere a este como uma «conversão». Trata-se, sempre, de uma iniciativa de Jesus, que vem ao encontro de Paulo, para o fazer outro e para o fazer Seu. Esta mudança radical de Paulo não vem da sua renúncia ao mal passado, mas resulta daquela inesperada e repentina «revelação», daquela iluminação interior, que cura a sua cegueira, e o faz ver e viver tudo de modo novo. A conversão de Paulo não é, pois, fruto do seu pensamento, da sua evolução psicológica ou de uma revolução moral. Brota simplesmente deste acontecimento fundamental: o encontro luminoso com Cristo Jesus, que o surpreende, agarra, escolhe e envia. Mesmo assim, Paulo aprenderá que, apesar da sua relação imediata com o Ressuscitado, deve entrar na comunhão da Igreja, deve fazer-se batizar, deve viver em sintonia com os outros apóstolos. Só nesta comunhão com todos, ele poderá ser um verdadeiro “Apóstolo de Jesus Cristo”. 3. Não pensemos, porém, que ao considerar o seu glorioso passado como esterco, Paulo perdesse o que tinha de bom e verdadeiro na sua vida, de judeu, zeloso, piedoso e fervoroso! O que se passa é que agora compreende, de modo novo, a sabedoria, a verdade e a profundidade da Lei e dos Profetas. Também Paulo não negará, a partir da conversão, a luz natural da razão, em que a cultura grega o formara. Simplesmente, ele abre-se agora à sabedoria da Cruz, para a anunciar a todos os pagãos! De fato, Cristo, quando entra na sua vida, não lhe tira nada. Dá mais. Dá tudo. Aberto assim a Cristo, com todo o coração, Paulo torna-se ainda mais capaz de um diálogo amplo com todos, judeus, gregos, romanos. Ele faz-se tudo para todos, tornando-se, pela graça de Deus, verdadeiro apóstolo das nações! 4. Podemos fazer uma pergunta final: o que pode significar, hoje e para nós, toda esta história da conversão de Paulo? Significará, em primeiro lugar, que também, para nós, a fé cristã não é uma nova filosofia, ou uma nova moral, novos costumes. Somos cristãos unicamente se nos deixarmos “encontrar”, «agarrar” e “conquistar” por Cristo, seguindo-O até ao fim. Só nesta relação pessoal com Cristo, só neste encontro com o Ressuscitado, nos tornamos realmente cristãos! Em segundo lugar, esta «revelação» no caminho de Damasco pode significar que também, a nós, é dado encontrar Cristo, nos caminhos da existência quotidiana, na nossa busca sincera de Deus e da sua perfeição. Certamente que Cristo não se nos mostrará talvez, daquele modo irresistível, luminoso, como fez com Paulo, para o constituir apóstolo das nações. Mas Cristo revela-nos hoje o seu rosto, quando lemos, escutamos, meditamos e rezamos a Sagrada Escritura! Também quando celebramos a Eucaristia, Cristo nos abre os olhos e nos faz voltar, para a vida por um caminho novo. Na celebração e na liturgia da Igreja, podemos mesmo tocar o coração de Cristo e sentir que Ele toca o nosso. 5. Por fim, nestes dois mil anos do nascimento de Paulo, dêmos graças a Deus, pela obra maravilhosa, que Ele realizou na sua Igreja, através do seu glorioso Apóstolo. E peçamos, por intermédio de São Paulo, que a todos Deus nos ilumine, que a todos nos dê, no curso e percurso da nossa vida, a graça deste encontro luminoso com a sua presença! Ao concluirmos a Semana de Oração pela Unidade dos cristãos, «tenhamos, como Paulo, uma mão na mão de Cristo, a outra apertando a de um irmão e outro irmão, uma verdadeira multidão, em comunhão, até chegarmos a ser, ó Deus, «um só na tua mão» (Ez.37,17)!