Mt 18, 15-20
 “Onde dois ou três estiverem reunidos no meu nome, eu estarei no meio deles”
O texto de hoje é tirado do chamado “Discurso Eclesiológico”, que trata de problemas da vida cotidiana da comunidade dos discípulos, que Mateus chama de “Igreja” (nos Evangelhos, o termo “Igreja” só ocorre aqui e em Mt 16, 18). Entre esses problemas podemos detectar a busca do poder (vv 1-5), o escândalo dado aos pobres e humildes (vv 6-14), a questão do irmão que erra (vv 15-20) e o perdão das ofensas (vv 21-25). São questões ainda atuais para as comunidades de hoje.

Um dos grandes assuntos que perpassa o capítulo é a preocupação com o irmão (irmã) que se desgarra ou se desvia. A lição é que os dirigentes - e a comunidade - devem ter a mesma atitude de Jesus diante de tais pessoas, ou seja, a compaixão, a compreensão, a vontade de reintegrá-las na comunidade. Somente em último caso o erro de um irmão deve ser levado à comunidade mais ampla (a Igreja), pois a caridade exige que primeiro se procure resolver a questão em particular. É nesse espírito que a comunidade recebe o poder que Pedro recebeu em Mt 16, 19, o de excluir o infrator da comunidade. Porém, é essencial interpretar esse direito à luz de vv 12-14, onde a busca da ovelha desgarrada é dever primordial dos dirigentes comunitários, a exemplo do Pai Celeste. Esse sentido da exclusão é ressaltado por Paulo em 1Cor 5, 5: “humanamente ele será arrasado, mas o seu espírito será salvo no dia do Senhor”.
O texto conclui dizendo que “se dois de vocês estiverem de acordo sobre qualquer coisa que queiram pedir, isso lhes será concedido”. Certamente, “qualquer coisa” se situa dentro das preocupações desta seção de Mt que trata do seguimento de Jesus e da vivência da comunidade. Não se refere a um pedido qualquer, ou que não fomenta a chegada do Reino, da justiça, da partilha, da fraternidade.
Quantas vezes os nossos pedidos são nada mais do que expressões do nosso individualismo? Cumpre lembrar que o Deus da Bíblia ouve “o clamor do sofrido”, como tantos textos afirmam os salmos e os profetas. O Evangelho afirma que o Pai vai atender qualquer pedido em nome de Jesus, em favor da chegada do Reino. É claro que podemos e devemos rezar por nossas preocupações individuais e pessoais; mas, elas não podem dominar o horizonte da nossa fé. Devemos realmente lembrar a frase tão importante de Mateus, que nos ensina: “Buscai primeiro o Reino de Deus e a sua justiça, e tudo isso será dado em acréscimo”. A nossa oração jamais poderá ser desvinculada dos grandes temas do Reino e do sofrimento de tantos irmãos e irmãs no mundo de hoje.