Mt 17, 1-13
 “Este é o meu Filho amado, que muito me agrada”
Esse trecho vem logo após o diálogo com Pedro e os discípulos sobre quem era Jesus e como deveria ser o seu seguimento: “Se alguém quer me seguir, renuncie a si mesmo, tome cada dia a sua cruz, e me siga” (Mt 16, 24). Começando a passagem com as palavras “seis dias depois,” Mateus quer ligar estreitamente o texto com a mensagem anterior sobre a cruz.

Neste momento Jesus “subiu à montanha” (v. 1), e aparecem Moisés e Elias.  Talvez para nós a identidade dos dois personagens não tenha tanta importância – eram duas figuras destacadas do antigo Testamento, mas poderia ser Davi, Isaac, Jeremias ou qualquer outro duplo.  Mas não era assim para os destinatários do Evangelho de Mateus.  Moisés era considerado como o patrono da Torá, da Lei e Elias era visto como o pai do profetismo. Assim Mateus quer mostrar que Jesus está em continuidade com as Escrituras, isto é, o caminho que Jesus segue está de acordo com a vontade de Deus. Os dois personagens, tanto Moisés como Elias, eram profetas rejeitados e perseguidos no seu tempo - Mateus aqui vislumbra o destino de Jesus, de ser rejeitado, mas também de ser reivindicado por Deus. E Pedro faz uma sugestão descabida: “Senhor, é bom ficarmos aqui. Se queres, vou fazer aqui três tendas: uma para Ti, uma para Moisés e outra para Elias” (v. 4). Claro, era bom ficar ali, num momento místico, longe do dia-a-dia, da caminhada, das dúvidas, dos desentendimentos, da luta. Quem não iria querer? Mas não era uma sugestão que Jesus pudesse aceitar. Terminado o momento de revelação Jesus estava sozinho, e “desceram da montanha” (v. 9). Por tão gostoso que pudesse ser ficar no Monte Tabor (a tradicional identificação da montanha do texto), era preciso descer para enfrentar o caminho até o Monte Calvário! A experiência da Transfiguração está intimamente ligada com a experiência da cruz! Quem sabe, talvez a força da experiência do Tabor tenha dado a Jesus a coragem necessária para aguentar a experiência bem dolorida do Calvário!
    Podemos assim concluir que todos nós devemos subir Monte Tabor para sermos transfigurados e para depois descermos para “lavar os pés” dos irmãos e irmãs! Todos nós - seja qual for a nossa vocação - precisamos de momentos de oração profunda, de união especial com Deus. Mas estas experiências não são “intimistas” - nos aprofundam a nossa fé e o nosso seguimento, para que possamos seguir o exemplo d’Ele que lavou os pés dos discípulos: “Eu, que sou o Mestre e o Senhor, lavei os seus pés; por isso vocês devem lavar os pés uns dos outros” (Jo 13, 14).
Também este trecho pode nos ensinar a valorizar os momentos de “Tabor”, os momentos de paz, de reflexão, de oração, pois se formos coerentes com a nossa fé, teremos muitas vezes de fazer a experiência de “Calvário”! Somos fracos demais para aguentar esta experiência - por isso busquemos forças na oração, na Palavra de Deus, na meditação, - mas sempre para que possamos retomar o caminho, como fizeram Jesus e os três discípulos! Para os nossos momentos de dúvida e dificuldade, o texto nos traz o conselho melhor possível, através da voz que saiu da nuvem: “Este é o meu Filho, que muito me agrada. Escutem o que ele diz!” (v. 5). É a mesma orientação da Mãe do Senhor na história das Bodas de Caná quando ela diz aos serventes “Façam tudo o que Ele lhes disser”(Jo 2, 5).  Façamos isso, e venceremos os nossos Calvários!
Tomaz Hughes SVD
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