Lc 2, 22-40
“Meus olhos viram a tua salvação”
Hoje a Igreja interrompe o ciclo dos Domingos Comuns, cujos Evangelhos em 2014 são normalmente tirados de Mateus, para celebrar a Festa da Apresentação do Menino Jesus no Templo, com um texto do Evangelho de Lucas.  Embora o texto seja bem conhecido, para aprofundar o pensamento de Lucas é bom não somente fixarmos nos eventos relatados, mas ver neles uma releitura de textos importantes do Antigo Testamento. 

Como Lucas adaptou o Cântico de Ana (I Sm 2, 1-10) para construir o Magnificat, o Canto de Maria (Lc 1, 46-55), aqui ele usou como fonte a narrativa de Elcana e Ana em I Sm 1-2.  Naquela narrativa o sacerdote idoso Eli aceita a dedicação do filho feita pelo casal no santuário de Silo e abençoe os pais de Samuel.  Lucas expande e aprofunda essas tradições com temas caros a ele: realização de promessa, templo, universalismo, rejeição, testemunho e o papel das mulheres.  O centro teológico do texto se acha em 2,29-32, o Canto de Simeão. A estrutura do texto é assim: vv. 21-24 formam o contexto para o testemunho duplo de Simeão e Ana em vv. 25-38 e os vv. 39-40 formam a conclusão.
    A meta de Lucas é enfatizar a fidelidade dos pais de Jesus à Lei mosaica.  A nova manifestação da salvação de Deus vem dentro dessa fidelidade.  A lei da purificação se encontra em Lv 12, 2-8 (indica-se Lv 12,6 em 2,22 e Lv 12,8 em 2,24).  A Lei referente à consagração do primogênito acha-se em Ex 13,1-2.  Mas em lugar de mencionar a norma que pedia o resgate da criança pelo pagamento de cinco siclos (Nm 3, 47-48. 18, 15-16), Lucas introduz a apresentação de Jesus, o que não era exigência do Antigo Testamento.  Com esse relato ele quer enfatizar o zelo dos pais em assumir a tarefa que Deus lhes confiou.  Vale notar que eles oferecem duas rolas, o que era a oferta permitida aos pobres para a purificação da mãe (Lv 12, 8). Mais uma vez notamos aqui um dos temas preferidos de Lucas, cujo Evangelho é muitas vezes chamado “O Evangelho dos pobres e excluídos”, situando a família de Jesus entre o povo pobre da Palestina.
    É também importante notar que, no Canto de Simeão, vv. 29-32, a salvação dos pagãos é anunciada pela primeira vez em Lc.  Ela só será claramente apresentada a partir da revelação pascal em Lc 24,47.
    Não é fácil entender o trecho um tanto enigmático de vv. 34 -35, especialmente no que se refere à frase dirigida à Maria “Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma” (v35a). Frequentemente se explica essas palavras como referentes à dor da Maria em testemunhar o sofrimento de Jesus na cruz, (“a mãe dolorosa”) mas, na verdade, o Evangelho de Lucas não fala que Maria estava presente na morte de Jesus (esse relato só que encontra em Jo 19, 25-27).  Provavelmente Lucas quer enfatizar que a missão de Jesus age como uma espada que faz corte radical entre as opções da vida, a semelhança da ação da Palavra de Deus em Hebreus (Hb 4, 12-13), e até Maria tem que fazer essa opção radical por Jesus.  De fato, em Lucas ela é apresentada como discípula-missionária do Senhor!
    Então o texto também nos convida para que façamos uma opção definitiva e radical pelo seguimento de Jesus, pois todos nós, desde o nosso batismo, recebemos a vocação de sermos discípulos/as-missiopnários/as de Jesus.
Tomaz Hughes SVD
e-mail: O endereço de e-mail address está sendo protegido de spambots. Você precisa ativar o JavaScript enabled para vê-lo.