16º Domingo do Tempo Comum - 21/07/2013
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DÉCIMO SEXTO DOMINGO COMUM (20/07/2013)
Lucas 10, 38-42
“Uma só coisa é necessária”
Mais uma vez, o Evangelho de Lucas destaca o fato que Jesus e os seus discípulos “caminhavam”. É caminhando que se faz caminho, e é no caminho que se aprende o que é ser discípulo de Jesus. Todos nós estamos “no caminho”, como Jesus e os outros, só que a nossa caminhada não se mede em quilômetros, mas em anos!
O Evangelho de hoje frisa muito o lado afetivo de Jesus e dos seus discípulos e discípulas. Jesus se dirige à casa de uma família em Betânia, perto de Jerusalém. Era o lugar predileto onde Jesus procurava - e recebia - aconchego humano, carinho, afeto, amizade, acolhimento; onde podia refazer as suas forças nas suas caminhadas evangelizadoras. Do Evangelho do Discípulo Amado aprendemos que: “Jesus amava Marta, a irmã dela e Lázaro” (Jo 11,5). Este tipo de relacionamento humano é necessário para que formemos verdadeiras comunidades cristãs - e quantas vezes dispensamos este elemento fundamental.
É gritante a diferença de gênio das duas irmãs! Marta, provavelmente a mais velha, preocupada com os seus afazeres - afinal tinha chegado hóspedes para uma refeição, e tinham que ser bem tratados; Maria, calma, sente-se aos pés do Senhor, para escutar a Palavra. De repente, ressoa o desabafo de Marta: “Senhor, não te importas que minha irmã me deixe sozinha com todo o serviço? Manda que ela venha ajudar-me!” (v. 40). Instintivamente, a nossa simpatia fica com a Marta. Qual é a mãe da família, a dona de casa ou o anfitrião de visita que não sentiria o que Marta sentia? Por isso mesmo, chama a atenção a resposta do Senhor: “Marta, Marta! Você se preocupa e anda agitada com muitas coisas; porém uma só coisa é necessária. Maria escolheu a melhor parte, e esta não lhe será tirada.”( V. 41s).
Uma coisa é óbvia - Jesus não está defendendo a preguiça, a omissão, a exploração do trabalho dos outros! Num mundo agitado como é o nosso, que não nos deixa tempo para cultivar o relacionamento humano, a amizade, a oração, o nosso próprio ser, esta resposta nos faz lembrar a importância de viver de uma maneira que prioriza as coisas. É óbvio que nós temos que nos preocuparmos com os afazeres, os trabalhos, - mas na verdade, quantas vezes nós enchemos os nossos dias com ativismo, atividades fúteis, agitação, - e assim não conseguimos escutar nem nós mesmos, nem os irmãos, nem o próprio Deus!
Jesus aqui questiona a agitação e o ativismo - que não se mede pelo número de atividades. O ativismo é uma fuga, uma fuga de um encontro com os anseios mais profundos do nosso ser, dos apelos de Deus, refugiando-nos em um número sem fim de atividades sem objetivos claros, sem organização, sem rumo. A atitude de Maria é a de uma discípula, que aprende viver de maneira nova, ouvindo e ruminando a Palavra de Deus, uma palavra que pode levar à muita atividade, mas nunca ao ativismo.
Jesus de forma alguma quer menosprezar a Marta. Aliás, diversas vezes os evangelhos põe Marta em mais relevo do que Maria. O próprio Lucas diz que foi Marta que recebeu Jesus na sua casa (v.38). Em João, é Marta que faz a profissão de fé em Jesus, que nos Sinóticos é feita por Pedro: “Sim, Senhor. Eu acredito que tu és o Messias, o Filho de Deus que devia vir a este mundo”( Jo 11,27). Na realidade, todos nós temos que ser “Marta e Maria”. Temos necessidade de nos dedicarmos aos nossos afazeres, mas também é preciso achar tempo para ficarmos aos pés do Senhor. O desafio é de conseguir o equilíbrio entre os dois aspectos de vida, entre “lançar as redes” e “consertar as redes” (cf. Mc 1,16-120), entre “atividade” e “oração”, entre “missão” e “interiorização”. Pois os dois lados são tão intimamente ligados que o desequilíbrio, do lado que for, trará conseqüências negativas para a nossa vida de discípulos e discípulas. Também aqui nos traz um alerta – com uma certa freqüência, corremos o risco de sobrecarregar as pessoas leigas tão dedicadas às comunidades. Devemos sempre lembrar que elas também precisam de tempo para cultivar os seus laços familiares, de aprofundar a sua própria experiência de Deus, de descanso. Não é a vontade de Deus que alguém “se queime” de tanto serviço, mesmo na evangelização. Precisamos ser sempre “Marta e Maria”.
Tomaz Hughes SVD
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DÉCIMO QUINTO DOMINGO COMUM (14/07/2013)
Lucas 10,25-37
“Vá, e faça a mesma coisa”
A parábola do “Bom Samaritano” talvez seja, junto com a do “Filho Pródigo”, a mais conhecida de todas as parábolas de Jesus. Por isso mesmo corre o risco de ser banalizada, de não ser levada muito a sério, de ser relegada quase ao nível de folclore religioso. Merece uma atenção mais minuciosa.
A parábola situa-se logo após Jesus ter louvado o Pai por ter “escondido essas coisas aos sábios e inteligentes e revelado aos pequeninos” (cf. Lc 10 ,21). Realmente, o primeiro a tentar atrapalhar Jesus é um “sábio e inteligente” - um especialista em leis. Lucas salienta que ele fez a pergunta “O que devo fazer para receber em herança a vida eterna”(v. 25), não porque ele se interessava pela verdade, mas “para tentar Jesus”. Devolvendo a pergunta a ele, Jesus deixa claro que o legista já sabia a resposta:“Ame o Senhor, seu Deus, como todo o seu coração, com toda a sua alma, como toda a sua força e com toda a sua mente; e ao seu próximo como a si mesmo.” Jesus simplesmente diz: “Você respondeu certo. Faça isso e viverá”( v 28)
Mas com a petulância típica do pseudo-intelectual, ele insiste, “para se justificar”, com uma segunda pergunta: “E quem é o meu próximo?” (v29). Mas Jesus não cai na cilada de fazer uma discussão teórica e estéril sobre quem seja o próximo - ele logo traz o debate para o nível prático da vivência. Ele conta a parábola do “Bom Samaritano”. Vejamos.
Depois do assalto, passou pela vítima um sacerdote que “viu o homem e passou adiante pelo outro lado”( v.31) . A mesma coisa aconteceu com um levita. Porque será que esses homens - ligados ao culto judaico - agiram assim? A resposta está nas leis de pureza daquela época. O contato com um defunto, ou com sangue, deixava a pessoa ritualmente impura, isso é, inapta para participar do culto. Como o homem estava coberto de sangue, e talvez morto, os dois não se arriscavam a tocar nele, pois para eles o culto religioso era mais importante do que a misericórdia para com uma pessoa sofrida. Não era, em si, uma atitude somente pessoal de duas pessoas maldosas, mas demonstra uma tentação permanente de pessoas ligadas ao culto e o mundo tido como “sagrado”- o perigo de viver alienadas do mundo real, onde as pessoas vivem, sofrem, e lutam todos os dias.
Entra em cena um samaritano. A religião dele era considerada como cheia de deformações e ignorância pelo judaísmo oficial, pois desde a invasão da Assíria em 721 a.C. a prática religiosa do povo samaritano tinha sido contaminada por religiões pagãs (cf. II Rs 17,24-31). Mas quando ele vê o sofrimento alheio, ele não pensa em discussões teológicas sobre pureza, mas parte para uma ajuda prática, com misericórdia.
Terminando a história, Jesus devolve a pergunta ao especialista em leis - mas faz uma mudança fundamental! Não faz a pergunta teórica “quem é o meu próximo”, mas uma pergunta prática “quem se fez próximo do homem que caiu nas mãos dos assaltantes?” A primeira pergunta só levaria a uma discussão vazia; a de Jesus leva a uma mudança de prática vivencial.
Forçado a reconhecer que quem se fez próximo do sofredor era o samaritano, o legista ouviu da boca de Jesus a conclusão:“Vá e faça a mesma coisa”( v. 37).
Com esta parábola, Jesus quer ensinar que nada, nem o culto, tem prioridade sobre a ajuda a uma pessoa necessitada. A religião de Jesus não é teoria, é prática de misericórdia, pois Deus é misericordioso. Como diz o Evangelho de Mateus, baseando-se em Oséias 6,6: “Aprendam, pois, o que significa: “Eu quero a misericórdia e não o sacrifício”. Por que eu não vim chamar justos, e sim pecadores”( Mt 9,13). O legista já sabia a orientação da Escritura, mas tentava escapar das suas conseqüências, criando discussões inúteis. Nós também sabemos o que diz a Bíblia, - não tentemos esvaziá-la com debates estéreis sobre quem é “o pobre”, “o aflito”, “o próximo”, “o bom”. Façamos o que Jesus ensina nesta parábola “e viveremos”.
Tomaz Hughes SVD
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