O Congresso Americano Missionário (CAM3) encerrou-se com êxito e a Igreja equatoriana respondeu brilhantemente ao desafio que havia assumido de organizar esse magno evento. As celebrações foram deslumbrantes, a organização foi excelente e a participação das delegações dos diferentes países, esplendida. Foi notável o contributo dos leigos e a colaboração das mulheres e dos jovens presentes. Os foros de intercâmbios e o clima de fraternidade universal que se viveu nesses dias me marcaram indelevelmente e dou graças a Jesus por ter tantos irmãos e irmã com quem compartilhar a mesma vocação pela missão.

Surpreendeu-me grandemente o considerável número de verbitas que chegou com as suas respectivas delegações, bem como vários confrades do Equador que estavam bem implicados e comprometidos na organização do evento, Senti que, como congregação, estávamos participando em cheio no Congresso.No entanto, nem tudo o que brilha é ouro. Gostaria que a presença de indígenas e de “afrodescendentes” no Congresso fosse mais significativa, tendo em conta a diversidade étnica da população equatoriana e colombiana. As colocações, amplamente publicadas, foram as dos bispos, enquanto que as conclusões finais dos foros expedidas eram tão concisas que já não refletiam a imensa riqueza dos debates, assim como a dos trabalhos em grupo nem a riqueza dos questionamentos brotados nos plenários. Havia muitas reflexões de valor que pediam ter sido mais bem aproveitadas.

Isto me faz recordar que, salvo poucas exceções, os bispos participaram pouco nos foros; a sua maior participação teria agradado muito o povo de Deus, o qual poderia estar em contato nestes dias com os seus bispos. Outra coisa que teria sido um afago para o povo de Deus: que cada dia se acercassem três ou quatro bispos para comer com o povo nos “campi” da Universidade Católica, onde comíamos todos nosso pratinho humilde, mas saboroso. Francamente, teria sido um gesto tão lindo e simpático que, seguramente, o povo haveria de festejar com tambores e címbalos. Às vezes, esquecemos os gestos de delicadeza como esses, que são o que nos faz sentir—nos mais humanos e mais irmãos.

Teria sido tão fácil. Houve excelentes colocações, cumpre recolhê-lo, do melhor nível teológico, como foi a pedagógica exposição de Dom Luis Augusto Castro, arcebispo de Tonja - Colômbia, cheia de parábolas e exemplos ou a crua e comprometida colocação de Dom Edwin Kautler, bispo da diocese de Xingu, Amazônia, ameaçado por defender os direitos dos indígenas e dos camponeses. Mas, de modo geral, o acento continua sendo querigmático, sem nenhum reflexo de necessidade de diálogo ou de revisão crítica da nossa pastoral missionária. Resumindo, dou-me conta de que o paradigma missionário que primou durante o Congresso não teve uma novidade de destaque. Ninguém falou da missão como diálogo com o mundo atual, a não ser o Pe. Antônio Pernia (Superior Geral da SVD) que falou do Diálogo Profético em sua exposição no foro sobre a missão “ad gentes”. E verdade que o discipulado é inseparável da missão, mas eu gostaria que o lema do Congresso: “Escuta, Aprende e Anuncia” estivesse relacionado com as problemáticas missionárias de nosso continente.

“Escutar” a Palavra, mas também “escutar” o clamor de nosso povo, as dores dos povos indígenas do continente, o choro dos marginalizados para descobrir. Gostaria que o “aprender” fosse entendido não só como o “aprender” do mestre mas também aprender das sementes de Verbo presentes nas culturas e nos povos afro-americanos e indígenas sem esquecer os jovens e as suas novas culturas. Aprender das novas igrejas evangélicas que crêem, razão por que recebem melhor e povo e o brindam com um afeto não encontrado em nós (DA 225). Diz-se que para saltar longe, há que retroceder primeiro uns passos atrás para tomar impulso.


Pergunto-me que missão continental poderíamos encarar sem revisar as práticas nos usos e nos desafios da cultura contemporânea. Esse delineamento é fundamental para qualquer planificação pastoral. Se vocês já leram e Documente de Aparecida, terão percebido que há ricos elementos eclesiológicos e pastorais (mais do que muitos de nós esperávamos). Creio que faltou, talvez, pô-los em prática durante o Congresso, de maneira simples e com gestos humanos e calorosos. Sinto que alguns bispo não aproveitaram o Congresso como ponto de partida de uma pastoral renovada. Para que serve uma fé cristã quando é uma simples bagagem que serve de normas e proibições, de práticas de devoção fragmentadas ou moralismos brando que não convertem a vida dos batizados (DA 12).

Faltou uma conversão nos momentos preciosos de Congresso, quando poderíamos ter começado como Igreja, povo de Deus, a missão continental “ad gentes”, que os fiéis esperam dos seus pastores. Faltou essa teologia do encontro, da escuta e do diálogo com o “outro”, principalmente com o leigo, com o indígena ou com e povo afro. Foi custosa a integração dos bispos. Mas sem dúvida, o melhor ponto de partida de uma missão continental, deveria ser a missão “ad intra”.Na realidade, poucos elementos ficaram claros no que concerne à missão continental. Esse poderia ter sido o eixo aglutinante das conclusões dos foros temáticos.

Que tipo de missão necessita o nosso continente? Quais serão as suas características? Como implementar essa missão continental de uma maneira coordenada e eficaz? O Documento de Aparecida deixou a responsabilidade a cada diocese, e alguns bispos já declararam que, durante a missão continental, não há que esperar eventos extraordinários para além da evangelização habitual. Tratar-se-ia melhor de uma firme decisão missionária que deve impregnar todas as estruturas eclesiais e todos os planos pastorais, buscando estratégias novas, bem como métodos adequados.

Soa à “nova evangelização” de João Paulo II, “nova nos seus métodos e nova no seu ardor”, mas qualquer semelhança com o passado é mera coincidência.Do CAM 3, guardo como lembrança o carinho e a amabilidade de centenas e centenas de voluntários equatorianos que colaboraram de boa- fé como anfitriões. Creio que há esperanças de uma renovação eclesial por meio da dimensão missionária. Os leigos demonstraram isso a mim, o que me interpelou como missionário e como verbita. A sede do próximo CAM 4 será a Venezuela, dentro de quatro anos. Agora é a hora da missão num mundo que necessita de irmãos que saibam escutar, aprender do outro e anunciar como o seu testemunho o Evangelho de Jesus. Mario Olea svd - Coordinador Comunicación